A virtude da Caridade – Hyder Oliveira

A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor a Deus, com o amor filial e fraterno que Cristo nos mandou.

Assim como a Fé é a virtude que nos dá o conhecimento certo de Deus, assim também a Caridade é o verdadeiro amor de Deus. Para que nossa alma tenha verdadeiro amor por uma pessoa é preciso que ela primeiro conheça esta pessoa. Não podemos amar quem não conhecemos.

A Fé nos dá o conhecimento. A Caridade nos faz amar a Deus como Ele é, como O conhecemos pela Fé. A Caridade é a terceira virtude teologal, porque é Deus quem a infunde em nosso coração e, sobretudo, porque ela nos faz amar a Deus. Ela é toda relativa a Deus.

Amamos a Deus por causa da Sua perfeição infinita e de sua bondade. Deus é o próprio amor. Por isso, quando amamos alguém na caridade, esse amor nos foi dado por Deus. Muitas vezes acontece de Deus chamar uma alma mais generosa a um amor mais elevado. Ele  descobre, por assim dizer, os segredos do seu Divino Coração, quando vê no coração de alguém uma correspondência ao infinito amor que Ele nos demonstra. É na intimidade da oração, no silêncio interior, que podemos descobrir este caminho luminoso e pleno.

O amor a Deus compreende, implicitamente, o amor de Suas obras. Entre elas, mais do que todas, devemos amar as que mais se parecem com o próprio Deus. Aqui na terra, são os homens que receberam de Deus esta semelhança. Por isso, devemos amar a nós mesmos e ao próximo, porque aí descobrimos um pouco como é Deus. Antes de amar ao próximo, devemos amar a nós mesmos. Claro, não devemos amar nossas fraquezas, nossos pecados, mas sim aquilo que em nós manifesta a grandeza e a bondade de Deus. Devemos amar a nós mesmos porque conhecemos a nós mesmos e também porque devemos desejar a nossa própria salvação acima de tudo. Devemos amar nossa alma, criada semelhante a Deus, remida pelo Sangue de Cristo e predestinada à glória do Paraíso.

Como provamos o amor por nós mesmos?

Trabalhando para a nossa salvação. Vida de oração, frequência dos Sacramentos, cumprindo em tudo a Santa Lei de Deus. Devemos amar ao próximo, em Deus, por amor de Deus, na medida em que o próximo é digno desse amor, ou seja, na medida em que ele reflete essa bondade infinita de Deus.

Nosso próximo, em primeiro lugar, são nossos pais e familiares, nossos amigos, nossos conhecidos, etc. Às vezes, devemos manifestar nosso amor a Deus fazendo o bem a alguém que não conhecemos. Alguém que ajudamos na rua, uma informação que damos, um copo d’água, uma esmola… Mas devemos sempre nos lembrar que o amor ao próximo depende inteiramente do amor de Deus. A virtude da Caridade deve ser praticada sempre. É um mandamento de Deus, o primeiro mandamento de Sua Lei: Amar a Deus sobre todas as coisas. Deus quer ser amado e quer que amemos aqueles que Ele ama. De diversas maneiras Deus provou que nos ama: primeiro, nos criando, nos tirando do nada; depois, apesar do pecado de Adão e Eva e de todos os nossos pecados, nos salvando pela morte na Cruz de Seu Filho. Ele pede nossa retribuição, que consiste em louvá-Lo, glorificá-Lo, obedecê-Lo e amá-Lo sempre. Por isso devemos rezar, assistir à Santa Missa, cumprir nossas obrigações para com Ele e para com o próximo.

Pecados contra a Caridade

Todos os pecados mortais, pois eles são ofensas a Deus que ferem seu amor por nós. Ao pecar, nos colocamos acima de Deus;

. Preguiça ou tibieza espiritual: fraquezas nos atos de amor a Deus, como o desânimo na oração, distração na Missa, fraqueza nas mortificações, etc.

. Ódio contra Deus – é o pecado que vai diretamente contra o amor de Deus; é a fuga e o abandono de Deus. Devemos rezar por tantas almas que encontramos, que manifestam o ódio de Deus, muitas vezes pelo indiferentismo religioso, apenas deixando a Deus de lado, não querendo saber dele.

A capacidade humana de mostrar amor é uma expressão da sabedoria e do interesse amoroso de Deus pela humanidade. Curiosamente, os antigos gregos tinham quatro palavras para “amor”. Uma era eros, que denotava amor romântico relacionado com a atração sexual. Os escritores do Novo Testamento não tiveram necessidade de usar eros, embora a Septuaginta usasse formas dessa palavra em Provérbios 7,18 e 30,16 e existissem outras referências ao amor romântico no Antigo Testamento. Por exemplo, lemos que Isaque “se enamorou” de Rebeca. (Gênesis 24,67) Exemplo realmente notável desse tipo de amor é o caso de Jacó, que pelo visto enamorou-se da bela Raquel à primeira vista. De fato, “Jacó passou a servir sete anos por Raquel, mas eles se mostraram aos seus olhos como apenas alguns dias, por causa do seu amor por ela”. (Gênesis 29,9-11,17,20) O Cântico dos Cânticos também fala de amor romântico entre um pastor e uma moça. Mas, nunca é demais frisar que esse tipo de amor, que pode ser fonte de muito contentamento e alegria, deve ser mostrado apenas em harmonia com as justas normas de Deus. A Bíblia diz que é somente com o amor de sua esposa legítima que o homem pode ‘extasiar-se constantemente’.

Há também o forte amor familiar, ou afeição natural, baseado na relação sanguínea, para o que os gregos tinham a palavra storgé. Tal amor é responsável pelo ditado “o sangue fala mais alto”. Bom exemplo disso é o amor que as irmãs Maria e Marta tinham pelo seu irmão Lázaro. O quanto ele lhes significava vê-se do fato de que elas choraram muito a sua morte repentina. E quão alegres ficaram quando Jesus ressuscitou a Lázaro, a quem tanto amavam! (João 11,1-44) O amor de uma mãe pelo filho é outro exemplo desse tipo de amor. Assim, para salientar quão grande era seu amor por Sião, Deus disse que era maior do que o amor que uma mãe tem por seu filho.

Um dos indicativos dos “últimos dias”, com seus “tempos críticos, trabalhosos”, é a falta de “afeição natural”. (2Timóteo 3,1.3) Devido à falta de amor familiar, alguns jovens fogem de casa e alguns filhos adultos negligenciam seus pais idosos. (Compare com Provérbios 23,22.) Outra indicação da falta de afeição natural é o prevalecente abuso de crianças — alguns pais espancam tão severamente os filhos que se faz necessária a hospitalização. A falta de amor parental evidencia-se, também, no fracasso de muitos pais em disciplinar os filhos. Permitir que as crianças façam o que bem entendem não é prova de amor, mas equivale, sim, a adotar a lei do menor esforço. O pai que ama mesmo seus filhos os disciplinará, sempre que necessário. — Provérbios 13,24; Hebreus 12,5-11.

Há também o termo grego filía, que denota afeição (sem conotação sexual) entre amigos, como entre dois homens ou duas mulheres. Bom exemplo disso é o amor entre Davi e Jonatã. Quando Jonatã foi morto em batalha, Davi pranteou-o, dizendo: “Estou aflito por ti, meu irmão Jonatã, tu me eras muito agradável. Teu amor a mim era mais maravilhoso do que o amor das mulheres.” (2Samuel 1,26) Sabe-se também que Cristo tinha afeto especial pelo apóstolo João, conhecido como o “discípulo amado”.

Que palavra grega usou Paulo em 1Coríntios 13:13, onde mencionou fé, esperança e amor e daí disse que “o maior destes é o amor”? A palavra aqui é agápe, a mesma que o apóstolo João usou quando disse: “Deus é amor.” (1João 4,8.16) Trata-se dum amor guiado ou governado por princípios. Pode ou não incluir afeição e predileção, mas é um sentimento ou emoção altruísta relacionado com fazer o bem a outros, independente dos méritos do beneficiário ou de quaisquer benefícios para quem o manifesta. Amor deste tipo levou Deus a dar o mais caro tesouro de seu coração, seu Filho unigênito, Jesus Cristo, “a fim de que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha vida eterna”. (João 3,16) Como Paulo tão bem nos lembra: “Dificilmente morrerá alguém por um justo; deveras, por um homem bom, talvez, alguém ainda se atreva a morrer. Mas Deus recomenda a nós o seu próprio amor, por Cristo ter morrido por nós enquanto éramos ainda pecadores.” Sim, a·gá·pe faz o bem a outros independente de sua condição na vida ou do custo para quem expressa tal amor.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Deixe uma resposta