Dom de Línguas

Existem hoje, duas interpretações para o que é chamado de Dom de Línguas. A primeira, refere-se a esse Dom como o acontecimento de Pentecostes (At 2, 3-4) em que, pela ação do Espírito Santo, os discípulos passaram a falar em outras línguas. Nesse sentido, pode-se traduzir o Dom de Línguas como uma capacidade divina de se fazer compreender. “Pardos, medos, elamitas; os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Asia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes; ouvimo-los publicarem em nossas línguas as maravilhas de Deus.” At 2, 9-11.

Na continuidade do mesmo capítulo bíblico, São Pedro faz um grande discurso que aumentou em cerca de 3 mil o número de adeptos a fé cristã. Nesse discurso ele cita o profeta Joel que disse “Sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias o meu Espírito e profetizarão.” E é justamente o que acontece em Pentecostes. O Espírito Santo se derrama sobre os apóstolos e eles recebem uma capacidade tal de profetizar que são compreendidos ate mesmo por povos de línguas distintas. A segunda interpretação desse Dom faz referência a passagem em que São Paulo fala que o Espírito Santo vem em nosso auxílio e intercede por nós com gemidos inefáveis. (Rm 8, 26) O mesmo Santo escreveu que “Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito”(1Co 14, 2). Ao longo de todo esse capítulo bíblico São Paulo trada dos Dons de Línguas e de Profecia, fazendo uma distinção muito clara entre ambos. Deixando então claro que se tratam de duas coisas diferentes, foquemos então no Dom de Línguas tratado por Paulo.

Primeiro é importante definirmos e diferenciarmos Dom e Virtude. Virtude é uma disposição estável de praticar o bem. São hábitos constantes que levam o homem para o bem; o Dom vem principalmente pela graça de Deus e a virtude pela prática. (Obviamente não quer dizer que virtude não precise da Graça de Deus, nem que Dom não exija também um comprometimento pessoal) Paulo descreve essa pratica como mais algo individual (que edifica a si mesmo 1Co 14,4). E na assembleia é preferível utilizar palavras simples e compreensíveis a falar em línguas (1Co 14, 19) Ele coloca também a importância da interpretação desse Dom (1Co 14, 13). Por isso é importante compreender a ação do Espírito Santo nos dois acontecimentos, a forma como ele se manifestou e como Deus se manifesta aos homens nessas duas situações.

No antigo testamento existe um momento importante que explica um pouco sobre a existência do dom de línguas, retratado posteriormente no dia de Pentecostes, presente no novo testamento. A construção da Torre de Babel (Gn 11, 1-32) proposta pelos habitantes do vale de Sinar de criar uma torre de modo que ela tocasse os céus, teve como consequência a separação das línguas do povo. “Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade. Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.” Gn 11, 7-9. No dia de Pentecostes é possível perceber que há entendimento do discurso de Pedro pelos povos das mais diversas regiões como apontamos nas primeiras linhas dessa formação. E que esse entendimento vem dos céus, nesse momento o apostolo recebe o dom de falar em línguas, a tradição da Igreja nos revela que além de Pedro outros grandes santos também receberam esse dom, como São Padre Pio durante algumas de suas homilias. Ao leitor, cabe também entender que nessas duas situações o dom de línguas foi manifestado porque tinha o dever de edificar a comunidade, durante o discurso ambos os santos possuíam a missão de falar de Deus para as outras pessoas e não de forma individual.

E é essencial compreender isto para distinguir ambas as interpretações, quando as passagens das cartas de São Paulo falam de gemidos inefáveis elas carregam consigo um significado diferente daquilo que chamamos de dom de línguas. O auxílio do Espírito Santo presente no significado dessa passagem, se trata de um auxilio particular, onde somos ensinados pelo próprio Espírito a orar. NÃO SE TRATANDO de um dom que existe para edificar uma comunidade durante uma oração junto a uma assembleia, mas de um auxilio individual entregue por Deus para seus filhos. Como foi dito pelo próprio apostolo e escrito também nessa formação: “em comunidade é necessário que se utilizem palavras simples e compreensíveis. ” Essa forma de oração que tem uma origem nos encontros pentecostais ecumênicos entre católicos e evangélicos não exprime palavras entendíveis, se fundamenta em uma experiência pessoal e deve ser construída de forma interior. Essa construção também deve ser feita de forma ordenada, algumas vezes somos convencidos de que pela euforia poderemos ser tocados de forma profunda pelo amor de Deus. Mas as coisas são muito mais simples do que imaginamos, é possível escutar a voz de Deus sem recorrer ao auxílio de dons milagrosos ou situações extraordinárias. Somos capazes de nos edificar através de um amor simples e puro, presente em todos os momentos da nossa vida, só é necessário perceber que Ele está por lá.

Ao leitor, ficam duas passagens que podem resumir toda essa formação, ambas estão na Carta de São Paulo aos Coríntios e nos falam sobre esse tema.

“Em suma, que dizer, irmãos? Quando vos reunis, quem dentre vós tem um cântico, um ensinamento, uma revelação, um discurso em línguas, uma interpretação a fazer – que isto se faça de modo a edificar.” 1Co 14, 26

“Assim, pois, irmãos, aspirai ao dom de profetizar; porém, não impeçais falar em línguas.  Mas faça-se tudo com dignidade e ordem.” 1Co 14, 39-40

por Grupo Bodas de Caná

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