Ide e anunciai, pois há famintos pelo mundo- Letícia Alves

Se tivéssemos discernimento e graça suficientes para definir a Bíblia em uma única palavra, ela seria Missão. Do Velho ao Novo Testamento, pessoas são eleitas por Deus para viverem a Sua vontade. De Abraão a Jesus Cristo, vidas foram entregues por amor. Da instituição do catolicismo, feita pelo próprio Cristo há quase dois milênios, até os dias atuais, pessoas do mundo inteiro escolhem, todos os dias, a vida segundo a Palavra do Pai. Contrariando as regras que regem o mundo, Deus nos convida para sermos a Missão, assim como Ele foi em Jesus Cristo.

Após terminar toda a Sua criação, Deus a contemplou e viu que tudo era muito bom (cf. Gn 1,31). Ele não queria que a perfeição do que criou ficasse concentrada nas mãos de somente alguns e, desde o início dos tempos, nos mandou amar e procriar. O significado, porém, dessa frase ultrapassa as barreiras do literal e, através dela, Deus vem nos mostrar que devemos amá-Lo intensamente, para podermos transbordar e levar esse amor a toda criatura. Procriar, amar, entregar, ensinar, levar… Todo esse amor a todo homem, principalmente ao faminto, doente, pecador e sofredor. Pois os sãos não precisam de médico, mas os enfermos (cf. Mc 2,17).

Jesus Cristo, enquanto ainda estava aqui na Terra, por onde andava arrastava discípulos Consigo. A multidão que sempre O seguia, entretanto, era, na sua grande maioria, constituída por pobres, famintos, leprosos, aleijados e cegos, além de cobradores de impostos e prostitutas, considerados grandes pecadores na época.  O que Ele queria nos mostrar com isso? Mais do que uma simples compaixão para com o irmão necessitado, Jesus instituiu o caráter missionário, caridoso, humilde e acolhedor que nós, como Igreja, esposa e membro do corpo de Cristo, devemos ter.

Não dá para fechar os olhos diante do sofrimento pelo qual a humanidade passa atualmente. Pessoas passando dias inteiros sem pôr qualquer tipo de alimento na boca; pessoas completamente dependentes de drogas lícitas ou ilícitas que só as aproximam, diariamente, da morte. Pessoas sofrendo explorações morais, físicas ou sexuais; pessoas que, mesmo antes de nascer, já são excluídas, pela sociedade, de qualquer condição de viver dignamente.

E pessoas poupadas desses sofrimentos se perguntando, passiva e tranquilamente, onde estaria Deus numa hora dessas, se estaria vendo tudo isso, se Ele, finalmente, se importa. Pessoas que tapam os olhos e cerram os ouvidos diante de todas as respostas enviadas por Ele, através da Bíblia, da Santa Missa e da Igreja.

E a resposta, contudo, somos nós! A missão somos nós! Ele nos fez a Sua imagem e semelhança e, depois, se fez homem, para nos mostrar que nós podemos e devemos, como verdadeiros cristãos, ser Deus na vida de cada uma dessas pessoas! Ele se entrega a nós todos os dias na Missa, nos enche de graça e de misericórdia e nos presenteia com anjos e santos para intercederem por nós para que tenhamos força e fidelidade suficientes para, também, nos entregarmos, por Ele, com Ele e n’Ele, para essas pessoas, que são nada menos que nossos irmãos.

O amor verdadeiro é paciente, bondoso, gratuito, justo, sincero. Não guarda rancor, não sente inveja, não é escandaloso (cf. 1 Cor 13,4-5). E esse amor vem de Deus. Ele nos convida a senti-Lo inteiramente, para podermos levá-Lo a todos. Alguns, o Senhor chamará para vocações específicas, para vidas consagradas à missão de anunciá-Lo aos famintos. Mas o chamado de levar o Amor, o Evangelho, a Felicidade Eterna a todos os homens se estende a todo e qualquer cristão. O dever de saciar a fome e a sede, abrigar do frio e dar de vestir aos pobres se estende àquele que se diz filho de Deus.

Os enfermos dos quais Ele fala, aliás, não se limitam somente aos doentes de corpo, assim como não se limitam aos que tem fome de pão. O mundo sofre as dores de estar longe do Seu Criador, o homem está desnutrido de Amor. É nosso dever, como cristãos e, consequentemente, oficiais imitadores de Cristo, levar o único remédio e o único pão capaz de curá-los: Deus. O Mesmo que também sentiu fome, medo e dor ao escolher Se encarnar para nos trazer a Salvação.

Finalmente, devemos pedir sempre em nossas orações a inspiração e a força para vivermos segundo a palavra do Senhor, para sempre conseguirmos fazer a Sua vontade e, assim, anunciar a Sua existência, a Sua misericórdia e o Seu amor, além de procurarmos saciar também materialmente as carências sofridas pelos nossos irmãos espalhados pelo mundo inteiro.

Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos; não vim chamar os justos, mas os pecadores.” (Mc 2, 17).

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