Quaresma – Parte 2- Yuri Menezes

Por 15 de fevereiro de 2016 Doutrina Nenhum Comentário

A Quaresma é um tempo essencialmente penitencial, a Igreja nos convida a entrar no deserto junto com Jesus, para que, como Ele venceu a tentação através do jejum e da oração, nós aprendamos a vencer o pecado da mesma forma. na quaresma é esse tempo favorável para deixar o pecado e voltar para Deus, como nos diz São Paulo na Segunda carta aos Coríntios: “Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação.” (II Cor 6,2).

“Todos os fiéis, cada qual a seu modo, por lei divina têm obrigação de fazer penitência”², principalmente, no tempo da Quaresma. O objetivo da penitência não é apenas nos fazer sofrer ou nos privar de algo que nos agrada, mas ser um meio de purificação pra nossa alma, ela é feita para nos dar forças na luta contra o pecado. A mortificação fortalece o espirito. Não é o sacrifício por puro masoquismo, mas pelo fruto de conversão e fortalecimento espiritual que ele traz, é um meio de purificação e santificação, por isso, deve ser feito com alegria.

Os propósitos da penitência e dos nossos pequenos sacrifícios são esses: submeter o corpo à alma e a vontade à inteligência; abster-se das coisas licitas para melhor renunciar as ilícitas; unir nossos sacrifícios pessoais ao Sacrifício de Jesus na Cruz; reparar as consequências dos nossos pecados já perdoados; procurar santificar não só a alma mas também o corpo; adquirir disciplina e constância, adestrando a vontade.
Para viver esse tempo penitencial de forma correta, a Igreja nos indica o Sacramento da Penitência, ou, simplesmente, Confissão, é a forma mais plena de abandonarmos o pecado e voltarmos ao estado de graça, e traz ainda a proposta do que chamamos de remédios contra o pecado: o jejum, a esmola e a oração. Cada um pode, também, adotar durante o tempo quaresmal uma pequena prática espiritual, abrindo mão de algo lícito, por escolha, tornando isso um condicionamento, um treinamento do corpo e da alma.

Todos esses exercícios de piedade e mortificação tem por objetivo livrar-nos do pecado. O jejum fortalece o espirito e a vontade, para que as paixões desordenadas não dominem nossa vida e a nossa conduta, a oração nos fortalece no combate contra o pecado e a esmola socorre o pobre necessitado e produz em nós o desapego e o despojamento das coisas materiais. “Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos, porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna” (Tb 12, 8-9).

A Igreja nos convida ao chamado jejum eclesiástico que consiste em fazer apenas uma refeição completa durante o dia e, caso necessário, tomar duas outras refeições pequenas. Não fazer as refeições habituais, nem outros petiscos durante o dia. Estão obrigados os fiéis de 18 a 59 anos completos. Pode-se também ser feitos outros tipos de jejum, como o completo ou a pão e água. O jejum pode ser feito em qualquer dia, principalmente no tempo do Advento e da Quaresma, exceto nos Domingos e Solenidades, e é obrigatório na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão.

Já a abstinência consiste em deixar de comer carnes de animais de sangue quente, bem como o calda da carne, mas permite-se o uso de ovos, laticínios e gordura. Estão obrigados os fiéis de 14 até o fim da vida. “Observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo a Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades, observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão do Senhor” ³, A abstinências as sextas-feiras podem ser substituídas por “alguma forma de penitência, principalmente, obra de caridade ou exercício de piedade” 4

Resumindo, o jejum e a abstinência são regidos pelas seguintes normas:

Quarta-feira de Cinzas: jejum e abstinência obrigatórios.
Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor: jejum e abstinência obrigatórios.
Demais dias da Quaresma, exceto os Domingos: jejum e abstinência parcial (carne permitida só na refeição principal/completa) recomendados.
Demais sextas-feiras do ano, exceto se forem Solenidades: abstinência obrigatória, mas não o jejum. Essa abstinência pode ser trocada, a juízo do próprio fiel, por outra penitência, conforme estabelecer a conferência episcopal (no Brasil, a CNBB estabeleceu qualquer outro tipo de penitência, como orações piedosas, prática de caridade, exercícios de devoção etc.).

A esmola trata da caridade fraterna, de abrir nosso coração para os irmãos. Ajudar, dar esmolas, visitar os doentes, aprender a escutar, reconciliar-se. Na nossa esmola podemos aprender a fazer da nossa vida um dom total; imitando a Cristo. Quando se dá, o cristão testemunha que não é a riqueza material que rege o mundo, mas o amor.

Nosso dever enquanto cristãos é dar não só a esmola material, mas também espiritual, afinal, o que dá valor a esmola é o amor, segundo as possibilidades e as condições de cada um. Esse amor deve nos tocar primeiro, devemos aprender a ser caridosos com nós mesmos, saber reconhecer nosso valor e nossos dons diante de Deus, para assim valorizar o outro por sua essência como filho de Deus.

É uma esmola que demonstra enorme caridade, também, a de partilhar a fé e de ser testemunho de cristão para que os corações alcancem a conversão, devemos atender aqueles que estão com dúvidas na fé e se martirizam por não enxergar mais a Deus, e ainda, devemos correr em auxilio daqueles que vivem na incerteza e na total ignorância de Deus.

A oração é um sustentáculo para a vivência que nos chama a Igreja nesse tempo quaresmal. Neste tempo devemos nos dedicar mais a oração e ao silêncio: aumentando o tempo, a prática e a intensidade, mantendo a constância e a fidelidade. Não se trata apenas de multiplicar as orações, mas de rezar ainda melhor as preces de cada dia, havendo, sobretudo, uma participação mais fervorosa na Missa e recomenda-se a meditação da Via Sacra, semanalmente. Outras formas de oração eficazes que nos indicam os santos é a de cumprir nossas obrigações diárias com mais dedicação, eficiência e perfeição e carregar com mais paciência nossa cruz de cada dia.

O Beato Paulo VI chama a Igreja de “sociedade dos homens que oram” e nos exorta a ensinarmos a oração, pois ela é para a alma o que o ar é para o corpo, uma alma que não reza é uma alma que não respira, não tem vida. É uma grande ilusão querer fazer algo por Deus e para Deus sem rezar, esta é a maior tentação que sofremos; rezar pouco, não rezar ou rezar mal.

Devemos viver uma vida de oração e aprender que para transformar o sofrimento, a dor e a tentação é preciso rezar. Dizia o Santo Cura d’Ars que “a mais bela profissão de fé é rezar e amar. A oração nada mais é que a união intima entre Deus e a alma, como dois pedaços de cera fundidos em um só, de tal modo que ninguém pode separar”.

A Quaresma é esse tempo de treinamento espiritual, é o tempo favorável para nos aproximarmos de Deus e dar frutos para Seu Reino, é um tempo de preparação para a Páscoa de Jesus, mas também para a nossa Páscoa pessoal, nossa passagem para a Vida Eterna, por isso devemos viver esse tempo com virtude e graça, pois é daí que nasce a verdadeira alegria porque chegamos mais perto de Deus.

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