Saiba mais sobre a Paixão de Cristo- Jonathan Cavalcante

Por 15 de fevereiro de 2016 Doutrina Nenhum Comentário
A paixão de Cristo é o termo utilizado para descrever os sofrimentos de Cristo durante seu julgamento e crucifixão. A palavra “paixão” vem do latim “passio” que significa sofrimento.

Convém ressaltar que, diferente do que muitos pensam, a Paixão não envolve a ressurreição. A ressurreição é outro evento da vida de nosso salvador que acontece após a Paixão, contudo não é inclusa.
Para introduzir nossa reflexão, é necessário entendermos em que consiste um sacrifício:
-Sacrifício significa “dom feito a Deus”
*Esse dom é também chamado de vítima. Muitas vezes o significado das palavras se transformam ou se perdem ao longo dos anos, por isso pensamos que a palavra vítima se refere apenas à pessoa que sofreu algum acidente, entretanto, em sua essência, essa palavra refere-se ao dom que será oferecido a Deus.
*Todo sacrifício é em nome de algum grupo e não somente pessoal. Antigamente, quando era mais comum haver sacrifícios, havia a oferenda de alguma vítima em nome de um grupo ou de uma tribo.
*É necessário que alguém ofereça esse dom, e essa pessoa é o sacerdote. Tanto é que o nome “sacerdote” significa: aquele que oferece sacrifício a Deus.
-Finalidades do sacrifício:
*Reconhecer soberano domínio de Deus
*Reconhecer nossas dívidas e pedir perdão
*Agradecer graças ou pedir
- No sacrifício de Cristo, Jesus era a vítima e o sacerdote ao mesmo tempo. E oferecia o seu sacrifício em nome de um grupo: a humanidade, para remissão dos nossos pecados. Afinal, durante muito tempo, houveram diversos sacrifícios com o intuito de pedir perdão, contudo as vítimas oferecidas a Deus não eram perfeitas. Portanto, com o intuito de perdoar nossos pecados,  um homem chamado Jesus – um cordeiro perfeito, já que é a própria divindade encarnada- foi ofertado à Deus. Como o pecado entrou no mundo pela humanidade(Adão e Eva), deve sair pela humanidade(Jesus).
Reflexão com base na Bíblia
Nossa reflexão será baseada em passagens do evangelho de São João:
                              Jo 6
Continuando nossa reflexão, sabemos que Jesus era um homem sábio e que suas palavras abrasam os corações daqueles que estavam por perto dele, contudo Ele intimidava algumas vezes àqueles que buscavam incriminá-lo realizando milagres em pleno sábado, que é sagrado para os Judeus. Além disso, e talvez até como fator mais agravante para revolta populacional, Jesus afirmava, sem que o povo compreendesse, que sua carne era verdadeiramente uma comida e seu sangue verdadeiramente uma bebida. Talvez isso tenha sido o que mais assustou aos Judeus, já que eles não aceitavam a antropofagia e nem se agradavam com algo que remetesse a morte, como sangue. Ressalta-se, ainda, que os Hebreus esperavam um Messias revolucionário, chefe militar ou algo do tipo, diferente do Jesus humilde que nos foi apresentado. Dessa forma, o povo foi começando a desgostar de Jesus e entrega-lo para morte.
                             Jo 13, 1-20
Na Idade Antiga, era muito comum oferecer ao hóspede água para lavar os pés da sujeira do caminho. Isso geralmente era feito por um SERVO. Jesus inverte os papéis se fazendo de servo e nos dando um grande ensinamento sobre o serviço. Nessa passagem há uma referência simbólica ao que acontecerá no futuro, pois Cristo se humilhou voluntariamente para nos servir, para remir os nossos pecados, assim como se “humilhou” para servir os apóstolos enquanto lavava os seus pés.
                              Jo 13, 21-30
Durante o anuncio da traição de Judas, a Bíblia nos relata que quando Jesus ofereceu o pão embebido para Judas o demônio entrou em seu corpo. Antes, no versículo 2 desse mesmo capítulo, o evangelista João nos informa que o demônio havia sugerido primeiramente para depois entrar, de fato.
                             Jo 13, 31-30
Nessa passagem Jesus anuncia que será traído. Nela percebemos que Judas Iscariotes estava possuído por um demônio quando entregou Jesus(versículo 27). Interessante comparar que no início do capítulo(v.2) o Diabo tinha SUGERIDO a Judas que ele entregasse o Cristo, enquanto no versículo 27 o demônio já estava dentro dele.
                            Jo 13, 31-38
Jesus passa a falar sobre a glória do Homem. Nesse momento começa a despedida de Jesus, quando ele da uma visão transcendental sobre o que acontecerá depois da sua morte. Por isso os apóstolos não entendem muito bem. Pedro, agoniado, insiste em seguir o Cristo por onde ele for e ainda faz-lhe promessas de dar a vida por Ele. É nessa hora que Jesus anuncia também a negação de Pedro. É curioso perceber que durante essa passagem o Messias fala que Pedro não o pode seguir agora, somente mais tarde, quando estiver pronto. Durante a leitura das sagradas escrituras percebemos a mudança de Pedro, que, antes da morte de Cristo, era um homem agitado, contudo torna-se cada vez mais uma pessoa serena e mais ungida. Mostrando que está ficando pronto para seguir os caminhos de seu mestre, tanto é que o apóstolo foi também crucificado, só que de cabeça para baixo.
                           Jo 18, 1-13
Após a Santa Ceia, evento que o evangelhista preferiu não relatar em detalhes, Jesus saiu para o Horto das Oliveiras para rezar. Judas aparece com alguns soldados e se mostra claramente o traidor que Cristo anunciara.
-Análise sobre Judas:
As escrituras nos mostram evidentemente que Judas estava possuído pelo demônio quando entregou seu mestre, entretanto isso não tira a culpa do apóstolo, já que antes ele já suscitava essa intenção. É necessário ressaltar também que, mesmo que Jesus soubesse que Judas era o traidor, Ele não poderia impedi-lo de fazê-lo por dois motivos: seria uma afronta ao livre-arbítrio que Deus nos deu e, caso o impedisse, nossos pecados não seriam perdoados. Além disso, Judas cometeu o maior pecado que um cristão poderia cometer, um pecado contra o Espírito Santo. Diferente do que muitos pensam, o maior pecado de Judas não foi ter entregue nosso salvador e sim não ter confiado na misericórdia Dele, pois caso se arrependesse e pedisse perdão, Deus, certamente, o teria perdoado.
                          Jo 18,  14-27
Depois da traição do apóstolo, acredita-se que uma das maiores dores de Cristo foi a negação do apóstolo que é tido como o líder. Pedro nega Jesus três vezes, mostrando que, nos momentos de angústia, confia mais em si do que no salvador. Após a última negação, os demais evangelistas relatam que Pedro começou a chorar, evidenciando um arrependimento do que fez.
-JUDAS x PEDRO
Judas e Pedro foram dois apóstolos que pecaram diretamente contra Deus. Este negando-o diante dos homens e aquele entregando-o para que seja crucificado. Ambos falharam diante do Messias, contudo, há uma grande diferença entre os dois. Pedro confiou na misericórdia de Deus e se arrependeu, diferentemente de Judas, que não confiou nesse amor e preferiu tirar a própria vida.
                          Jo 18,28-19,16
Nesse momento começa o processo de condenação de Jesus Cristo. Pôncio Pilatos era aquele que possuía o “jus gladii”, ou seja, direto da vida e da morte. Os judeus entregaram Jesus pelos motivos apresentados no começo da nossa reflexão, contudo, para ser crucificado, era necessário ter um motivo dentro da legislação romana. Justamente por isso, Pilatos tentava contornar as vontades dos Judeus, visto que não havia nenhum motivo na jurisdição romana que motivassem a morte desse homem. Houveram várias tentativas por parte do povo para que o Filho de Deus fosse crucificado até que foi apresentado o argumento de que Ele se dizia rei, ou seja, que queria se igualar a César. A partir disso houve a condenação de Jesus por querer se igualar ao imperador,  e, para tal crime, é condenado o homem ao pior tipo de morte: cruz.
-SUBIDA AO CALVÁRIO:
*Durante a Santa Missa essa parte é representada com a procissão de entrado do sacerdote até o altar.
*História: o evangelista João não relata com detalhes a caminhada de Jesus até o calvário, contudo sabemos que, segundo os profetas e a tradição, Cristo caira três vez nesse caminho. Alguns estudos realizados no Santo Sudário confirmam que há indícios de fortes lesões na regiões do joelho, indicando intensas quedas.
*Espiritual: os demais evangelistas relatam que o Messias teve a ajuda de um Cirineu para carregar a cruz, mostrando-nos que devemos sempre ter aquele nosso amigo para nos ajudar a carregar nossas cruzes quando não aguentarmos mais.
-A PLACA:
*Era comum indicar por placas pregadas no alto da cruz o motivo da crucifixão da pessoa. Pilatos mandou escrever INRI “Jesus de Nazareno o Rei dos Judeus” como forma de provocação a eles.
-AS VESTES  E A TÚNICA DE JESUS:
*História: era comum caber aos executores a posse das vestes do executado.
*Simbólico: A túnica de Cristo não foi rasgada, essa vestimenta representa para nós tanto a túnica sacerdotal como também a unidade da Igreja, que mesmo com as “cruzes”(lê-se dificuldades) não quebrará sua unidade.
-JOÃO E MARIA:
*História: quando um filho único estava prestes a morrer, ele assegura um destino à mãe viúva, recomenda-a a um amigo leal.
*Espiritual: Maria recebe, nesse momento, o título de nova Eva, pois, assim como Eva em Gn 4,1, Maria possuiu um homem com a ajuda de Deus. Assim, Maria torna-se a mãe da humanidade e a Igreja mãe.
-MORTE DE CRISTO:
*Fecham-se as profecias que tratam de sua morte.
*Jesus morreu, provavelmente, de asfixia. A morte de cruz era dita o pior tipo de morte pois, como o executado ficava suspenso, sua respiração era dificultada. A morte do nosso salvador foi mais rápida em virtude das flagelações que pioraram o estado clínico dEle.
-QUEBRAR AS PERNAS:
*História: quebrar as pernas acelerava a morte do executava, visto que, quando o crucificado sentia falta de ar, utiliza-se da força de suas pernas para erguer-se e respirar. Quando tinham suas pernas quebradas, essa tentativa de amenizar a agonia da asfixia era impedida.
*Simbólico: Jesus era o dom(vítima, no caso, dizemos cordeiro) perfeito, sem nenhum osso quebrado.
-SANGUE E ÁGUA:
*Clínico: de acordo com o médico Pierre Barbet, em virtude das intensas flagelações no tórax, é possível que o a água jorrada tenham sido de forma literal, e não apenas relatada de forma metafórica.
*Simbólico: A água representa o batismo, ou seja, o renascer para nova vida que ganhamos com a paixão de Cristo. E o sangue representa a Eucaristia, que veio a partir do sacrifício do Nosso Senhor.
A Igreja finalmente nasce do lado do Novo Adão(Jesus).
A paixão de Cristo é um momento de grande reflexão para nós, cristãos, afinal, nossos pecados não seriam perdoados se Jesus não tivesse se entregado na cruz por cada um de nós. Desse modo, é dever nosso meditar sobre esse ato de amor gigantesco que o próprio Deus fez para nossa salvação, e, a partir disso, nos voltar cada vez mais no sentido de tentarmos viver uma vida dignamente cristã.
FONTES:
-A paixão de Cristo segundo o cirurgião – Pierre Barbet
-Bíblia de Jerusalém

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