A eleição de Deus nas nossas misérias- Luana Lóscio

Por 16 de fevereiro de 2016 Reflexão Nenhum Comentário

Amados irmãos em Cristo, o nosso último retiro de aprofundamento teve como tema: “Cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição.
Como filhos obedientes, sede também vós santos em todas as vossas ações” e o boletim deste mês, dando continuidade ao que vivenciamos no retiro, traz o tema “Eleitos que crêem no amor de Deus”. Nesta formação trataremos acerca de nossa eleição, do decreto que Deus faz, fazendo uso de Sua soberania, para nos escolher, nos separar para Si e nos salvar. Essa eleição é feita desde o princípio e se estende até a eternidade, permanecendo imutável sob qualquer circunstância. Portanto, essa eleição independe de nós, da nossa vontade, das nossas obras ou dos nossos méritos. Deus não espera que nos convertamos, que sejamos santos para então nos eleger, muito pelo contrário, ele nos elege para que então busquemos a conversão e a santidade para assegurar tal eleição. É Ele próprio, ainda, que oferece a nós os meios e os fins para assegurá-la. Ou seja, Deus elege os pecadores, os miseráveis, que somos nós, para que possamos ser convertidos, santificados e salvos por Ele.

Nós, porém, queremos que Deus nos ame pelos nossos méritos, pelas nossas obras e não reconhecemos esse ato de amor que é a eleição de Deus. Isso acontece porque nós mesmos não nos escolheríamos, porque se pudéssemos escolher, teríamos nos criado de forma diferente do que somos, de forma idealizada, e isso nos faz inseguros em relação a nós mesmos, em relação ao próximo e em relação a Deus. É isso que muitas vezes impede que sigamos plenamente na nossa caminhada espiritual, que nos aproximemos de Deus, ou pior, é isso que nos leva a afastar-se d’Ele. É preciso, portanto, que não procuremos negar nossas misérias, mas que as reconheçamos e que aceitemos a eleição de Deus, além de procurarmos assegurá-la permitindo que Deus nos converta e santifique. É essa a verdadeira experiência com o amor de Deus, dar a nossa resposta a Sua eleição, escolher também por Ele, deixar que Ele nos ame mesmo que sejamos miseráveis e pecadores, mesmo sabendo que nós mesmos não nos escolheríamos. O primeiro passo para responder a eleição de Deus é escolher também por Ele, é ter fé em Seu amor e eleição, crer que somos a melhor escolha que Ele poderia ter feito, mesmo que sejamos tão imperfeitos, tão falhos, tão miseráveis. Não devemos vivenciar essa experiência apenas em oração, ou no início da caminhada espiritual, mas devemos fazer dela um exercício diário, em cada ação, em cada decisão, em cada confissão, em cada Santa Missa, enfim, tudo deve fazer parte da nossa resposta à eleição de Deus, da fé e da aceitação de que somos seus eleitos mesmo em meio a tantas misérias e pecados. É essa contínua experiência com o amor de Deus que nos dará segurança em relação à nós mesmos, em nossa relação com o próximo e com Deus e irá transformar nossos relacionamentos, nosso serviço, nossa oração, seja lá o que façamos pela presença de Deus.

Há muitos exemplos de como Deus elege Seus filhos e os regata dos seus pecados e misérias, podemos perceber isso na vida de tantos homens e mulheres eleitos por Deus que se converteram, viveram a santidade e a vocação designada por Deus à eles. Um bom exemplo é São Francisco de Assis. Antes de viver uma experiência com o amor de Deus, até quase 25 anos, Francisco era um jovem com conduta e mentalidade humanas, era vaidoso, fútil, rico e esbanjador. Ocupava-se com jogos e passatempos, rivalizando e incitando outros jovens para o mal. Porém, Deus o tendo eleito, o resgatou por meio de uma longa doença e sucessivos chamados por meio de visualizações e ouvindo a Deus. Começando a vivenciar a experiência com o amor de Deus que se seguiu durante toda a sua vida, Francisco creu que Deus o elegera mesmo em meio ao seu passado de pecado, mesmo com todas as suas misérias, e passou a viver o chamado que Deus o fez. Então, passou a desprezar tudo o que antes ele admirava e amava, abandonou todo o luxo e a riqueza, passou a viver a pobreza, foi perseguido, assaltado, passou a pregar o Evangelho, converteu muitos outros irmãos que se juntaram à ele, assistiu a pobres e doentes e curou doentes e possessos. Até o fim de sua vida, viveu o chamado que Deus o fizera para restaurar a Sua Igreja, respondeu a eleição de Deus, aceitou Seus desígnios e creu neles, vivendo um contínuo processo de conversão e santificação.

É preciso, portanto, que a exemplo de São Francisco, creiamos que não são os nossos pecados e misérias que nos afastam de Deus, mas que é a nossa insegurança que o faz. Precisamos ter fé não só em Deus, mas também em nós mesmos, que Deus se manifesta mais perfeitamente nas nossas misérias e nos nossos pecados a fim de que nos convertamos e busquemos a santidade continuamente, que façamos da nossa vida uma experiência de amor com Deus. E mais ainda, é preciso que tenhamos a segurança de que fomos criados e eleitos por Deus, que somos a Sua melhor escolha, que cada miséria nossa é um meio para que Ele manifeste a Sua graça e o Seu amor em nós.
“A única forma de evidenciar a realidade da eleição divina na vida é através da obediência aos santos preceitos do Senhor. Bem aventurado é aquele a quem Deus escolhe, e faz a Si para habitar nos Seus átrios eternos! Esse será satisfeito da bondade da casa do Senhor e da solenidade do Seu templo.” (S1 65,4).

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