A virtude da Fortaleza – Lia Gomes

O Catecismo da Igreja Católica define essa virtude da seguinte forma: ”[1808] A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições. Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício da própria vida, na defesa duma causa justa. «O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória» (Sl 118, 14). «No mundo haveis de sofrer tribulações: mas tende coragem! Eu venci o mundo!» (Jo 16, 33). ”Podemos relacioná-la à superação da fraqueza humana que se manifesta em nós das mais diversas formas, em que se pode destacar:

  • A fuga de tarefas que nos parecem mais difíceis, optando apenas por aquilo que nos mantêm em nossa zona de conforto
  • A desistência do caminho que devemos seguir quando surgem obstáculos
  • O medo do sacrifício e do sofrimento por amor à Deus, vivemos em meio a uma sociedade marcada pelo hedonismo (o prazer como bem supremo) e, por isso, acabamos não entendendo o valor do sofrimento na união com a Cruz de Cristo
  • O comodismo, muitas vezes nos contentamos com uma vida medíocre sabendo que Deus quer muito mais de nós, usamos nossa fraqueza como desculpa
  • A covardia no ”respeito humano”, de tanto falarem que não podemos julgar uns aos outros, acabamos sendo covardes e nos falta coragem e fortaleza para dizer ao outro quando suas atitudes são erradas, temos medo de perdemos um amigo, de sermos taxados de julgadores e, assim, esquecemos que, antes de tudo, devemos ajudá-los a chegar ao Céu

Como adquirir a fortaleza?

Primeiramente, precisamos de um ideal, não é possível enfrentar com coragem e aguentar com firmeza se não tivermos um grande propósito bem definido: o Céu. Além disso, é necessário a segurança da fé, termos, como São Paulo, a confiança de que, em nossa fraqueza, Deus nos faz forte [2 Cor 12,9-10] e, por isso, devemos sempre pedir-Lhe essa virtude. Enfim, precisamos do sacrifício que nos une à Cruz, para adquiri-la é necessário o esforço repetitivo por meio das mortificações diárias, que consiste em matar pequenos desejos e confortos nos preparando para maiores desafios (ex: não encostar as costas na cadeira, dormir sem travesseiro, minuto heroíco-a hora exata de acordar, etc.).

”Foi dura a experiência; não esqueças a lição. – As tuas grandes covardias de agora são – é evidente – paralelas às tuas pequenas covardias diárias. ‘Não pudeste’ vencer nas coisas grandes, porque ‘não quiseste’ vencer nas coisas pequenas.” São Josemaria Escrivá.

Para a conquista da fortaleza precisamos buscar a magnanimidade e rejeitar a pulsilanimidade. Esta que consiste na alma pequena, que se conforma com o pouco, enquanto aquela é o oposto, a grandeza da alma. O magnânimo não deve viver sem humildade, mas sim reconhecer que Deus não nos criou para uma vida medíocre e sim para a santidade, devemos imitar a Cristo. No entanto, é necessário tomar cuidado com a falsa magnanimidade que nos leva à petulância, à vaidade e ao exibicionismo.

A constância

A constância é a etapa da fortaleza que nos faz persistir no bem sem desistir quando aparecem os obstáculos, precisamos lembrar que aquilo que muito vale, muito custa, estamos lutando pelo Céu, não devemos esperar que esse caminho seja fácil. Podemos encarar os obstáculos de duas formas: uma pedra de tropeço ou um degrau de subida ao Céu, assim, chegamos a conclusão de que as diculdades também podem nos fazer crescer, edificando em nós, por exemplo, o autodomínio, a paciência, etc. Dessa forma, devemos aproveitar sabiamente as dificuldades e agradecer a Deus por elas.

”Não te queixes, se sofres. Lapida-se a pedra que se estima, que tem valor. Dói-te? – Deixa-te lapidar, com agradecimento, porque Deus te tomou nas suas mãos como um diamante… Não se trabalha assim um pedregulho vulgar.” São Josemaria Escrivá.

A paciência

A paciência é outra etapa da fortaleza e podemos defini-la como a arte de sofrer com fé, esperança e caridade, inclusive, São Paulo, ao falar sobre a caridade, cita, em primeiro lugar: ”A caridade é paciente”, onde há impaciência, há falta de amor. Aquele que é paciente sabe esperar e não apressa o tempo de Deus, sabe a hora de falar e a hora de calar (”Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. – Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. – E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender. – Conseguirás mais com uma palavra afetuosa do que com três horas de briga. – Modera o teu gênio.”)

Existem algumas mortificações que nos direcionam à conquista da paciência e, consequentemente, da fortaleza, são elas: aceitar os defeitos do outro sem se irritar, evitar modos duros de falar, repetir calmamente explicações para aqueles que demoram a entender, evitar comentar desnecessariamente dores, gripes, resmungar do frio, do calor, do trânsito…

”Não digas: essa pessoa me aborrece. – Pensa: essa pessoa me santifica.” São Josemaria Escrivá.

 

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