Aprofundando – O caso Galileu- Daniel Chagas

Por 15 de fevereiro de 2016 Reflexão Nenhum Comentário

Atualmente, um historiador de ciências concordará que a Igreja Católica não apenas não foi uma instituição contrária ao progresso científico, como ela mesma foi uma das protagonistas e incentivadoras. Então, por que o caso Galileu chama tanta atenção? É tão polêmico? Vamos analisar isso. O problema é que esse caso ficou, sobretudo para muitos inimigos da Igreja, como a luta de Galileu como um grande herói, combatendo os ignorantes membros do Catolicismo que a todo custo queriam impedir o progresso científico. Os inimigos da igreja, que se dizem tão democráticos, não se atentam para a realidade de que ser democrático implica dar ao acusado o direito de defesa. Implica ouvir o outro lado da História. É esse lado que veremos agora.

A primeira análise que deve ser feita é que para as pessoas da época, a idéia do sistema geocêntrico, o de que a terra está no centro do sistema solar, não era uma ideia ridícula. Afinal, não sentimos a terra se mover.  Além de usarmos expressões milenares que dão idéia de movimento ao sol: “o sol nasceu, o sol se pôs, etc.”. O maior erro que podemos cometer é julgar o passado com a visão de avançada de hoje. Além disso, o sistema funcionava muito bem para a observação dos planetas na época. Esse sistema não teria durado mais de 15 séculos se ele não funcionasse. Ele funcionava.

A primeira pessoa que passou a defender a introdução do sistema heliocêntrico, o sol no centro do sistema, foi Copérnico. Copérnico faleceu em 1543. Antes de morrer, cardeais católicos pediram que ele publicasse o livro. Inclusive, a dedicatória do livro dele foi para o Papa Paulo III. Incrível, não é? Sabe o porquê de Copérnico ter demorado a publicar? Não foi por medo dos teólogos, mas por medo de ser ridicularizado pelos astrônomos.

Séculos mais tarde, surge Galileu. Ele observa certas incoerências no sistema de Copérnico, mas defende a idéia do sol estar no centro. Ao propor suas teorias, o mesmo Galileu foi recebido e celebrado por eminentes e importantes membros da Igreja. Um padre da Igreja, Christopher Clavius, havia escrito para Galileu dizendo que seus colegas jesuítas haviam chegado às mesmas conclusões que ele. Em 1611, Galileu foi saudado e recebido com entusiasmo em Roma. Houve um dia de aulas em homenagem a ele. Ele foi ouvido pelo papa Paulo V. Tempos depois, Galileu utilizou argumentos muito fracos para defender a idéia de que o sol está no centro e a terra gira em torno dele. Disse que as ondas formadas pelos mares se davam pelo movimento com o qual a terra gira em torno do sol. Esse argumento não tem fundamento e as pessoas não compraram essa ideia. O maior problema de Galileu foi ter dito que os versículos da bíblia que diziam que a terra é inerte deveriam ser todos reinterpretados. Esse sim foi o problema. Poderia um leigo exigir reinterpretação de todos os versículos da bíblia, sobretudo quando a teoria dele sequer está provada? Lembremos que nessa época a reforma protestante ainda estava viva, e os protestantes acusavam os católicos de estarem se distanciando do que a bíblia prega. Perceba o quanto a questão estava delicada.

Agora, chegamos a um ponto muito importante. Havia argumentos racionais, científicos muito importantes que Galileu não conseguia rebater. O mais importante deles era a chamada paralaxe estelar. De forma um pouco simplista: imagine-se num carrossel. Você vê as coisas se movimentando porque você está se movimentando, e não as coisas. Vemos as coisas de locais e perspectivas diferentes o que dá sensação de que elas se movimentam. Então os cientistas da época perguntavam a Galileu: se nosso planeta se movimenta, porque não observamos modificação na paralaxe? Por que o céu sempre fica o mesmo em termos de estrelas? Galileu não tinha como provar isso. Só com telescópios muito mais potentes poderíamos ver que o universo é muito grande. Só assim saberíamos que a paralaxe existe, mas é imperceptível dada a distância. Assim, com esse argumento muito sério e complexo, o que Galileu dizia não tinha condições de ser nada mais do que uma teoria. A Igreja aceitou que fosse posta como teoria. A igreja não havia tornado heresia as observações de Copérnico. O maior problema de Galileu foi afirmar como fato o que era mera teoria. Pior do que isso, ele escreveu um livro em forma de um diálogo em que um dos personagens era um idiota. Galileu pôs os argumentos do Papa na boca do idiota. Isso era típico de Galileu, pois muitos diziam que ele tinha uma personalidade agressiva. Dessa forma, todo e qualquer conflito e embate contra Galileu se dava por questões pessoais e não porque a igreja fosse hostil ao fluxo de ideias. Ao contrário, a igreja incentivou e criou um ambiente propício para o desenvolvimento das ciências.

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