Para falar de doenças espirituais, precisamos primeiramente entender a dinâmica do ser humano, explicada de modo mais aprofundado por São Tomás de Aquino. A realidade humana se baseia em uma unidade, formada por corpo e alma, de modo que essas estão intrinsecamente ligadas e devem viver em equilíbrio.

A alma possui a faculdade da vontade e da inteligência, e o composto corpo e alma está relacionado ao apetite sensível, aos desejos e paixões. Logo, para por em ordem o composto do ser humano, deve-se recorrer a inteligência e vontade da alma, para que com a graça de Deus possa-se viver em equilíbrio, ofertando-se cada vez mais a Ele.

Diante disso, o que acontece várias vezes, é que eleva-se as paixões, o apetite sensível é colocado acima da essência da alma, que é ser entregue a Deus. Motivado por um amor desordenado por si mesmo, tenta-se se preencher com essas paixões. E por conta disso, acabam-se criando vícios. O ser acaba se tornando dependente dessas paixões, achando necessário tê-las para estar bem, verdadeiramente doente por elas. É nisso que consiste a doença espiritual. As doenças espirituais são pecados que contaminam a vida do homem, corrompem a alma e nos desviam do caminho da santidade, faz com  a alma seja como uma prisioneira em um corpo, submetida a seus desejos, quando esses deveriam estar em plena unidade.

Os pecados que compõem as doenças espirituais são 7, os 7 pecados capitais, nos ensina São Gregório Magno. São esses a gula, avareza, orgulho, ira, inveja, luxúria, preguiça. E podem ser combatidos de acordo com a natureza do vício, que além do amor desordenado por si mesmo (soberba), podem ser:

A concupiscência da carne, o desejo pelo excesso, pelo que parece útil e prazeroso, faz com que se originem a gula e a luxúria, que nos cegam espiritualmente e destroem a pureza. A concupiscência dos olhos, o desejo desordenado por tudo que agrada à vista, como a riqueza e o dinheiro, faz com que brote a avareza, que nos leva a um apego excessivo aos bens materiais, de forma a priorizá-los diante de Deus e da vida espiritual.

As demais doenças espirituais nascem da própria soberba da vida, que nos afasta de Deus pela vontade de sermos felizes por nós mesmos.

No combate espiritual contra essas doenças, três palavras resumem o que é necessário para vencer: oração, jejum e esmola. Em relação a concupiscência da carne, o jejum é necessário para ordenar os desejos e limitá-los, combatendo o excesso e descontrole. Já na questão da concupiscência dos olhos, a esmola é necessário para que haja o desapego dos bens materiais. E quanto a soberba da vida, a oração é necessária para reconhecer nossa pequenez diante de Deus, e humilhar-nos diante dele, aumentando nosso amor por Ele e ordenando o amor por nós mesmos, a obediência também é essencial para a cura espiritual.

Portanto, peçamos a Deus a graça de conseguir controlar nossas paixões e de lembrarmos sempre que somos templo do Espírito Santo, e então o glorificaremos em nossas ações

“Então, glorificai a Deus no vosso corpo” 1Cor 6,20

por Mário Filho